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Automação e Morfologia Hematológica

O hemograma é o nome dado ao conjunto de avaliações das células do sangue que, reunido aos dados clínicos, permite conclusões diagnósticas e prognósticas de grande número de patologias. Entre todos os exames laboratoriais atualmente solicitados por clínicos de todas as especialidades, o hemograma é o mais requerido. É um exame laboratorial que quantifica e avalia morfologicamente as células do sangue periférico.

Os aparelhos de automação oferecem sensibilidade, agilidade e precisão na realização desses hemogramas. A análise automatizada tem facilitado o desempenho da rotina laboratorial, especialmente quando há considerável quantitativo de exames/dia.

Por outro lado, a automação mais avançada disponível até o presente não consegue destacar, por exemplo, células falciformes, policromasia, diferenciação entre esquisócitos e células fragmentadas, células em alvo. Esses equipamentos carecem de sensibilidade para diferenciarem o roleaux (empilhamento de eritrócitos) da aglutinação eritrocitária. Da mesma forma não detecta as inclusões celulares eritrocitárias de pontilhados basófilos e os corpos de Howell-Jolly, ou as inclusões de grânulos tóxicos, vacúolos citoplasmáticos, corpos de Dohle ou grânulos de Chediak-Higashi em neutrófilos. Somando-se a essas deficiências analíticas, destaca-se a incapacidade dos equipamentos automatizados em identificarem e diferenciarem os linfócitos atípicos de plasmócitos, células de Mott (corpos de Russel), assim como as plaquetas agranulares daquelas com distribuição anormal de grânulos.

Quadro 1. Exemplos de algumas alterações hematológicas não identificadas pelos equipamentos:

Não há consenso entre os laboratórios quanto aos critérios de indicação de microscopia. Todos balançam a necessidade de reduzir o número de lâminas enviadas à microscopia com as indicações vindas da experiência clínico/laboratorial dos especialistas. Entretanto, é consenso que hemogramas oriundos de setores onco-hematológicos, de pós-transplantados ou sob quimioterapia, e de pacientes graves de UTI, devem ter indicação de microscopia. E todos aceitam a presença de flags das máquinas e resultados fora de limites de referência pré-fixados como indicativos dessa necessidade, o que varia muito é a amplitude dos extremos definidos.

Por todas essas razões e por mais fantásticas que sejam as ofertas da automação hematológica atualmente, os hemogramas com contagens alteradas, ou com indícios de anormalidades (flags), devem ser indiscutivelmente submetidos às análises microscópicas. Lembrando, dessa forma, que a análise de todos os parâmetros e gráficos é extremamente importante, não devendo-se focar apenas nos flags emitidos pelo equipamento. Os histogramas fornecidos trazem informações importantes para interpretação do exame, muitas vezes, alterações nesses aspectos podem sugerir, por exemplo, a presença de células imaturas, desvios à esquerda, entre outros. Quando todos esses procedimentos são executados de forma correta os resultados se tornam mais seguros para as análises clínico-laboratoriais e para o paciente.

 

Referências:

Failace, R.; Pranke, P. Avaliação dos critérios de liberação direta dos resultados de hemogramas através de contadores eletrônicos. Rev Bras Hematol Hemoter., v.26, n. 3, p. 159-166, 2004.

Failace, R.; Fernandes, F. B., Failace, R. Hemograma: manual de interpretação. 5ª.Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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