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Exame de Urina e os cuidados Pré-analíticos

A urinálise tem um papel fundamental na triagem e diagnóstico de doenças renais, urológicas e hepáticas. Sabe-se que os processos pré-analíticos impactam diretamente na qualidade dos exames laboratoriais. Dadas as facilidades da coleta e da praticidade operacional, grande número de pacientes realiza a coleta de urina em domicílio e a encaminha para o laboratório. A confiabilidade do resultado do exame depende muito dos cuidados durante a coleta da amostra, incluindo a realização de assepsia da região urogenital. Ainda que esse conceito esteja claro para os profissionais de saúde que trabalham no laboratório, para o paciente isso pode ser uma questão difícil de entender e, mais ainda, de realizar. Para que sejam observados os conceitos mínimos de padronização e segurança, recomenda-se que o laboratório forneça instruções claras, por escrito e com desenhos ilustrativos, para garantir que o procedimento seja realizado dentro de critérios adequados.

Por essa razão, todos os pacientes que coletarão a amostra de urina em domicílio devem ser orientados a lavar as mãos antes de iniciar a coleta e estar munidos com material de higiene adequado, um recipiente identificado com seu nome, data e horário da coleta, e instruções para a higienização e coleta da urina. Ao receber a amostra, o atendente deve certificar de que o paciente seguiu todos os procedimentos de higienização e de coleta prescritos e que o frasco está corretamente identificado e fechado.

Como todos os demais exames de laboratório, a ocasião e as condições de coleta são fundamentais para a obtenção de informações úteis e confiáveis. Acrescenta-se, como variáveis importantes, as condições de armazenamento da amostra e o tempo decorrido entre a coleta do material e a realização do exame. Pelo fato de a urina ser, na maioria das vezes, muito disponível e facilmente coletada, com frequência, o manuseio da amostra é descuidado. Mudanças na composição da urina ocorrem não só in vivo, mas também in vitro, exigindo a adoção de procedimentos de transporte e manuseio corretos.

O transporte inadequado da amostra de urina pode impactar diretamente na sua qualidade. Idealmente, amostras sem conservantes e não refrigeradas devem ser processadas em até 2 horas após a coleta para evitar a lise de hemácias e leucócitos e a intensa multiplicação bacteriana. Amostras refrigeradas preservam por mais tempo (até 4 horas) as hemácias e leucócitos, porém favorecem a precipitação de uratos e fosfatos.

É importante salientar que as amostras de urina nunca devem ser congeladas. Algumas substâncias químicas são úteis para conservação de amostras de urina destinadas ao exame de cultura, entretanto elas interferem em várias reações químicas da tira reagente, portanto não são recomendados para a urinálise. A tabela 1, descreve as alterações mais frequentes que podem ocorrer em uma amostra de urina que permanece em temperatura ambiente por mais de 2 horas, sem adição de conservantes.

Tabela 1: alterações observadas em amostra de urina mantida a temperatura ambiente após 2 horas

O procedimento de conservação da amostra mais utilizado é a refrigeração, entre 2 e 8°C, com a finalidade de reduzir o crescimento bacteriano e o metabolismo celular. Entretanto, é preciso lembrar que esse procedimento favorece a precipitação de fosfatos e uratos amorfos e que é importante permitir que a amostra atinja a temperatura ambiente e realize a homogeneização da amostra antes das análises químicas, mesmo se realizadas por tiras reagentes, muitas das quais dependem de reações enzimáticas temperatura-dependentes e para a dissolução das formações amorfas. Variações na velocidade e no tempo de centrifugação podem interferir na análise do sedimento, uma vez que este procedimento pode lisar as hemácias e leucócitos. A recomendação é que se utilize baixa velocidade (1500 a 2000 rpm), com um tempo mais curto de centrifugação (5 min) para preservar os elementos sólidos de interesse (cilindros, células, hemácias e cristais).

Apesar das melhorias na padronização, a maioria dos erros na análise de urina ocorre fora da fase analítica; as etapas pré-analíticas, em particular, são muito mais vulneráveis. Como a variação analítica tem sido bastante reduzida, mais esforços precisam ser focados na fase pré-analítica.

Referências:

Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML): realização de exames em urina.  Barueri, SP: Manole, 2017.

Coppens, A., M. Speeckaert, and J. Delanghe, The pre-analytical challenges of routine urinalysis. Acta Clin Belg, 2010. 65(3): p. 182-9

Laboratório Clínico – Requisitos e recomendações para exame de urina. ABNT NBR 15268. 2005.