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Do molecular ao sorológico: os desafios dos testes de COVID-19

Em dezembro de 2019, foram identificados os primeiros pacientes da doença que viria a ser chamada COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, em Wuhan, na China. Em janeiro, logo após a identificação do vírus, foram disponibilizados no mercado os primeiros testes de PCR, que possui como princípio básico a amplificação e detecção do material genético do vírus. Para que seja iniciada a produção em larga escala de testes de PCR, é necessário apenas que o material genético seja sequenciado, o que atualmente é um processo relativamente simples.

Desde então, o método é considerado padrão ouro no diagnóstico do COVID-19. No entanto, assim como todos os métodos analíticos, o PCR também possui características que podem influenciar negativamente os resultados. Dentre eles, encontra-se o fato de o teste ser realizado com amostras de swab nasal, de forma que o sucesso da detecção depende da qualidade da coleta. Além disso, por detectar o ácido nucleico do vírus, deve ser realizado na fase inicial dos sintomas, tendo sua sensibilidade diminuída com o passar dos dias e resolução da infecção. Por fim, o teste detecta apenas uma infecção atual, não podendo ser utilizado para identificar infecções antigas, um fator importante para entender a real exposição da comunidade ao vírus.

Apesar de essenciais no manejo da pandemia, os testes de PCR enfrentam ainda desafios globais de fornecimento, com enorme demanda de primers, bem como de controles positivos necessários para garantir o desempenho de cada equipamento. Soma-se a isso a necessidade de mão de obra especializada e o acúmulo de amostras, com atraso nos resultados, o que vem acontecendo em várias partes do mundo. Nesse contexto, os testes sorológicos têm ganhado espaço. Diferentemente dos testes de biologia molecular, são capazes de detectar no soro do paciente a presença de anticorpos contra o vírus.

Os testes sorológicos possuem diferentes metodologias, como ELISA e imunocromatografia. Eles demoraram mais a surgir no mercado devido ao seu desenvolvimento requisitar um conhecimento maior das proteínas que formam o revestimento viral, contra as quais o sistema imune responde, desenvolvendo anticorpos que neutralizam o vírus. É necessário que essas proteínas sejam desenvolvidas em laboratório para serem utilizadas como, por exemplo, revestimento de placas de ELISA.

Esse processo, em geral, utiliza um sistema não nativo, como as bactérias, para a expressão das proteínas do revestimento viral, sendo que qualquer deformidade na estrutura proteica pode comprometer a ligação ao anticorpo e sua detecção, influenciando na qualidade do teste. No caso da COVID-19, têm-se utilizado principalmente a proteína Spike (S), uma proteína de superfície única que intermedia a ligação com a célula hospedeira. A escolha da proteína a ser utilizada é crucial para evitar reações cruzadas com vírus semelhantes.

O método ELISA, por sinal, tem se destacado dentre os testes sorológicos, por se tratar de uma metodologia estabelecida, confiável e amplamente utilizada no diagnóstico de diversas doenças. Os testes sorológicos exigem atenção quanto ao momento correto para serem realizados, já que as concentrações de anticorpos IgM e IgG variam com o decorrer da doença. No entanto, podem ser um aliado importante no manejo da pandemia. A avaliação dos resultados deve ser feita por um profissional da saúde, sempre levando em consideração os aspectos clínicos do paciente, assim como o tempo desde o início dos sintomas.

Além de sua utilidade no diagnóstico da COVID-19, os testes de ELISA IgM e IgG podem ser utilizados para testagem regular do corpo clínico hospitalar ou para verificar a eficácia de vacinas. Esses testes têm uma função importante, ainda, na testagem em massa da população, a fim de se avaliar o real contato de pessoas assintomáticas com a doença, ajudando na formulação de políticas públicas. No entanto, devido ao pequeno conhecimento sobre o desenvolvimento de imunidade protetiva, os testes sorológicos não devem ser utilizados para guiar a necessidade de equipamentos de proteção individual (EPI) ou a aderência ao distanciamento social. Atualmente, diversos testes sorológicos já foram desenvolvidos ou estão em fase de desenvolvimento.

A expectativa por testes de qualidade, com elevada sensibilidade e especificidade, ainda é alta. Porém, já estão disponíveis no Brasil, para contribuir no combate à pandemia do SARS-CoV-2, como o ErbaLisa COVID-19 IgM/IgG: um teste com marcação CE de alto desempenho e confiável, lançado pela Erba Mannheim junto à Calbiotech, sua subsidiária nos EUA.

Referências

  1. Xie J. et al. Characteristics of patients with coronavirus disease (COVID-19) confirmed using na IgM-IgG antibody test. J Med Virol. 1-7, 2020. DOI: 10.1002/jmv.25930
  2. Petherik A. Developing antibody tests for SARS-CoV-2. The Lancet. Vol 395, issue 10230, p.1101-1102, 2020. DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30788-1
  3. Sethuraman N. et al. Interpreting diagnostic tests for SARS-CoV-2. JAMA. Publicado online em 06 de maio, 2020. DOI:10.1001/jama.2020.8259
  4. COVID-19 serology testing explained. American Society for Microbiology, 2020. Disponível em: <https://asm.org/Articles/2020/May/COVID-19-Serology-Testing-Explained?utm_campaign=Articles&utm_id=0047e4szad31226&utm_medium=social&utm_source=facebook>. Acesso em: 20 de maio, 2020.