O uso de fitas Reagentes Urinárias
O exame de urina rotina é constituído por três fases: análise física, química e sedimentoscopia. A análise física realiza a observação do aspecto, da cor, da densidade e, casualmente, do odor da urina. A análise química é realizada utilizando tiras reagentes e pode ser feita por modo visual ou automatizado e a última fase que é a análise dos elementos figurados ou sedimentoscopia, que é realizada por microscopia ou por metodologias automatizadas, as quais utilizam citometria de fluxo ou análise de imagens.
As tiras reagentes responsáveis pela análise química da urina são constituídas por uma tira plástica contendo pequenas áreas de papel absorvente impregnados com substâncias químicas especificas afixadas separadamente. Quando a amostra de urina é inserida na tira, ocorre uma reação química que leva a mudança na coloração em cada uma das áreas; com isso o resultado é analisado através da comparação entre a coloração produzida na fita e a tabela cromática padrão. Cada área reagente é composta pelas seguintes substâncias:
A análise da tira, pode ser realizada de forma visual, semiautomatizada ou automatizada. Os resultados são apresentados de modo semiquantitativo através da nomenclatura fornecida na tabela cromática.
Os analitos mensurados irão depender da tira de teste inserida no instrumento. Os parâmetros podem ser os seguintes: densidade urinária, leucócitos, nitritos, pH, ácido ascórbico, proteínas, glicose, cetonas, urobilinogênio, bilirrubina e sangue.
O princípio de funcionamento de cada área é explicado abaixo:
Densidade – O teste é baseado no princípio da troca iônica entre o polieletrólito e os íons presentes na urina. O resultado é uma mudança de cor do indicador ácido-base de uma cor azul-verde na urina com baixa concentração de íons, passando por verde e verde-amarelo na urina com um aumento da concentração de íons para uma cor amarela ocre. Usando o teste, é possível determinar o peso específico da urina na faixa de 1.000 a 1.030.
Leucócitos – O teste é baseado em uma reação enzimática na qual um substrato é clivado para liberar indoxil pela enzima esterase (elastase de leucócitos). Reage ainda com o sal de diazônio para formar uma cor púrpura. A intensidade dessa coloração é proporcional à quantidade de leucócitos na amostra de urina examinada e é avaliada após 120 s.
Nitritos – O teste utiliza a conversão de nitratos em nitritos pela ação de bactérias Gram-negativas contidas na urina. A reação da cor é baseada no princípio da reação de Griess modificada. Qualquer coloração rosa é uma evidência clara de bacteriúria quantitativamente significativa, ou seja, a presença de 105 ou mais organismos em 1 mL de urina.
PH – O teste é baseado na reação de um indicador ácido-base misto com uma transição de cores de laranja para amarelo e verde para azul na faixa de pH 5-9. O pH da urina pode ser lido para a unidade de pH 0,5 mais próxima.
Ácido ascórbico – O teste é baseado na reação do ácido fosfomolibdico, que é reduzido com ácido ascórbico ao azul de molibdênio. O teste não é específico para o ácido ascórbico, pois outras substâncias fortemente redutoras presentes na urina, como o ácido gentísico e os metabólitos do ácido acetilsalicílico, conferem uma cor verde a azul acinzentada.
Proteínas – O teste é baseado no princípio de mudar a cor do indicador ácido-base devido às proteínas. O teste é particularmente sensível à albumina, com sensibilidade significativamente menor a globulinas, mucoproteínas, hemoglobina e proteína de Bence-Jones.
Glicose – O teste é baseado no princípio de uma reação enzimática (glicose oxidase / peroxidase) e é específico para D-glicose, outros açúcares não dão uma reação positiva.
Cetonas – O teste é baseado no princípio da reação Legal e é significativamente mais sensível ao ácido acetoacético do que à acetona. O teste não reage com o ácido ß-hidroxibutírico. A escala de comparação de cores é calibrada para concentrações de ácido acetoacético.
Urobilinogênio – O teste é baseado na reação de acoplamento com um reagente estabilizado. O teste é específico para o urobilinogênio e o estercobilinogênio e não está sujeito às interferências usuais na chamada reação de Ehrlich.
Bilirrubina – O teste é baseado na reação de acoplamento da bilirrubina com um reagente estabilizado. A reação não é afetada pelo pH da urina.
Sangue – O teste é baseado na atividade peroxidase da hemoglobina, que catalisa a oxidação do indicador pelo hidroperóxido orgânico contido na zona do reagente. Para análise de sangue, o rótulo contém duas escalas; para a detecção de eritrócitos intactos (escala pontilhada) e hemoglobina livre (escala homogeneamente colorida). O teste é altamente sensível à hemoglobina e detecta sua presença na urina de concentrações correspondentes a aproximadamente 5 Ery / μL de urina.
Alguns cuidados devem ser realizados para manter a qualidade e o bom funcionamento das tiras, como:
– Manter as tiras armazenadas no recipiente original, que deve ser mantido bem tampado;
– Não tocar nas áreas de reação;
– Usar somente urina recente, bem homogeneizada e não centrifugada.
– As áreas reagentes são estáveis e mantém o desempenho especificado até a data de expiração indicada no rótulo quando o frasco é mantido em temperaturas inferiores a 30 ºC.
– Remover do frasco apenas a quantidade de tiras necessária para uso imediato;
– A exposição das tiras à luz solar direta, vapores químicos e umidade pode afetar as áreas de reação;
– Observar o tempo correto de leitura das reações.
Diversos fatores são capazes de interferir nos métodos analíticos utilizados para a análise da tira reagente e é fundamental uma pesquisa aprofundada para estudo e consequentemente, para a correta interpretação dos resultados. Alguns desses fatores interferentes são agentes de limpeza e desinfetantes, medicamentos e ácido ascórbico em concentrações elevadas na urina.
Apesar da fita reagente ser um método que reúne características altamente desejáveis para os procedimentos laboratoriais, como rapidez analítica, facilidade de manuseio e baixo custo, os cuidados devem ser praticados a fim de garantir a qualidade e confiabilidade dos resultados. Com isso, é importante que as análises sigam uma padronização do processo utilizado garantindo a igualdade da análise e interpretação dos resultados.
Referências:
NATIONAL COMMITE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS. Urinalysis and Collection, Transportation, and Preservation of Urine Specimens; Approved Guideline Second Edition. NCCLS document GP16-A2. Wayne,PA, 2001.
RANGEL, Marcel et al. Infecção Urinária: Do Diagnóstico ao Tratamento. Colloquium Vitae, jan/jun 2013 5(1): 59-67. DOI: 10.5747/cv.2013.v005.n1. v075.
SUZUKI, L.E.; CONSOLARO, M.E.L. Avaliação de Tiras Reativas Utilizadas na Rotina Laboratorial. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, 1 (1), 49-52, 1997.